'A Fórmula da Saudade', de Daniel Oliveira, com pedacinhos de mim



Porque o Mundo e a vida não são só viagens hoje fica aqui um pedacinho de mim.

Hoje - 04 de Julho de 2015 - terminei de ler o livro ‘A Formula da Saudade’. Poderia dizer infinitas coisas que fui pensando enquanto o lia, tantos pensamentos e tantos acontecimentos que quase acreditámos terem sido escritos baseados em histórias nossas (do leitor). Mas cada um lê e interpretará à sua maneira tendo a história com certeza significados diferentes para cada um que a lê. Ou não fossemos nós ler e sentir tendo em conta o que somos, o que conhecemos e vivemos.
"- É mais fácil gostar de ti ou não gostar?"
"- É menos difícil não gostar - Respondeu. - Os defeitos sobressaem de forma muito mais imediata. as pessoas raramente veem qualidades onde pensam haver defeitos e quase sempre veem defeitos onde podem existir qualidades. e como tudo em mim está à vista ... a possibilidade de me serem atribuídos defeitos sem que haja tempo de estes serem, afinal, qualidades, é enorme. A obstinação é arrogância, a simpatia decerto que é cinismo, a oportunidade profissional é compadrio e por aí fora. Já os defeitos serão, aos olhos dos outros, sempre defeitos: a estupidez não pode ser ingenuidade, a antipatia jamais será uma dor escondida e a vaidade não é outra forma de dizer insegurança" - retirado do livro 'A formula da Saudade' de Daniel Oliveira.

É exatamente assim que a nossa sociedade, que nós, acabamos por, erradamente, fazer juízos de valor em relação àqueles que não conhecemos.

 
O livro vai certamente de encontro, do inicio ao fim, com muitas vivências que já experienciamos fazendo com que nos lembremos ou retornemos ao passado e vivamos novamente alguns momentos. Recordar é Viver.
 
Eu emocionei-me em particular no final aquando da descrição da morte do avô. Pois eu assisti à morte do meu também há quase 4 anos. Tudo o que tenho memória é de ouvir o meu pai a falar com voz de quem se tenta fazer de forte, mas trémula contendo lágrimas de saudade de quem se preparava para nos deixar mas que ainda ali estava. O meu pai dizia, agarrado à mão do meu avô, sogro dele, que teria sido um Grande Homem acrescentando o desejo de ‘Descanse em Paz’, e repetiu, vezes sem conta. São situações em que queremos dizer tudo e nada ao mesmo tempo com a certeza de que ficará algo sempre por dizer. Não me esqueço de olhar para o meu pai e ver o que em 24 anos não tinha visto. Nunca tinha visto o meu pai chorar. Foi talvez o momento mais duro e mais pesado que assisti. Estávamos literalmente reunidos para o último adeus ao meu Avô. O meu avô já tinha mais de 80 anos, sempre trabalhara no campo, um homem que mesmo com todos esses anos de experiencia a sua memória não lhe traíra. Ele era capaz de dizer o exato dia em que alguma história que nos contasse tinha acontecido. Com um sentido de humor que o caracterizava e para tudo tinha sempre algo para dizer. Amigo. De uma bondade como nunca vi igual, dizer que não a alguém que lhe pedia um favor era algo que não conhecia. No entanto com tanto de bom que fez, mas talvez com algumas situações vividas que menos concordou ou aceitou que tivessem feito, um cancro acabou por lhe tirar a vida, mas nunca a boa disposição pelo menos nos dias em que as dores não lhe tramavam. Sempre disse que não queria ir para hospitais mas foi lá, um pouco contrariado por lá estar, que acabou por morrer. Pensámos que fosse o melhor para ele, mas nunca iremos saber se realmente foi. Assim como nunca vou conseguir saber o que ele me tentou dizer pouco antes de fechar os olhos para nunca mais os abrir.

Obrigada Daniel pela história, levou-me a viajar no tempo e a recordar tanta coisa. E por momentos senti e vivi a história, como se mais nada estivesse a acontecer à minha volta.


 
 

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